"Em “Autobiografia”, o emblemático “o poeta é um fingidor/finge tão completamente/que chega a fingir que é dor/a dor que deveras sente”, de Fernando Pessoa, traz uma noção-chave: fingimento, do latim ‘fingere’ (forjar, talhar, dar figura à matéria), como re(a)presentação do real, (re)encenação de nosso ser-estar em desalinho, do maravilhamento e do espanto ante o mundo em seu curso até mesmo mais comezinho. Confirma assim a que vêm a arte e o desdobrável exercício da escrita: inscrever-se por meio da (re)elaboração da vida, que só avulta possível “reinventada”, como assinala Cecília Meireles.
Pois sob frondosa copa, a portoalegrense Suzana Outeiral gentilmente nos convida a recostarmo-nos na mais antiga das árvores: a figueira. E de seus guardados cuidadosamente desocultados, vamos colhendo – um a um – os seus frutos acredoces e nos emocionando com ora erráticos percalços ora determinados passos desta gaúcha-candanga, que se foi fazendo forte e feminista; artista e professora; atriz e dramaturga; amiga, filha, mãe, avó: mulher, enfim, em todo seu contraditório e desafiador feixe de avanços, recuos, disparates, acertos, atrevimentos – percurso a margear aquela alegria benfazeja, também ‘amaciada de tristeza’, derramada no caminho pelo Menino de Guimarães Rosa, lembrando-nos, sempre, que, não à toa, etimologicamente, a palavra coragem (‘coraticum’) guarda a mesma raiz de coração."
- Luciana Barreto, poeta e professora.
Dados sobre a autora:
Suzana da Costa Outeiral, professora e tradutora de português-espanhol, atriz, reeducadora corporal, arte educadora, nasceu em Porto Alegre-RS, no hospital São Francisco, às 7h45 do dia 27 de dezembro de 1943.Graduada pela UFRGS, teve toda sua formação realizada em escolas públicas, sendo defensora da melhoria da educação dada pelo Estado, acreditando ser fundamental para o crescimento do país.
Mãe de três filhos e avó de quatro netas, escreve há muito tempo, mas somente agora encontrou motivação para a publicação de sua biografia.